Poema de Cordel baseado no conto
"Quando a Lua Surge, o cão do Inferno Mata" de J. B. Padilha
Preste atenção companheiro
Na história que eu vou contar
De um caçador corajoso
Que numa noite de luar
Com os cornos cheios de cana
O cão das trevas foi peitar
A lenda nos diz que quando
A lua no céu surgia
Clareando toda a noite
Um cão negro aparecia
Levando terror a todos
Que demonstrasse ousadia
Quem já conhece acredita
Que essa criatura que temem
Vagando sem rumo à noite
Um dia já foi um homem
E hoje traz a maldição
De se tornar lobisomem
Outros dizem que a criatura
É um assustador guardião
Dos portões lá do inferno
Vagando em nosso chão
Atrás de almas perdidas
Pra levar pro seu patrão
Mas há quem não crê nas lendas
Alegando que são crendice
Do tipo que só acredita
Se topar co’a bizarrice
Pagando bem alto o preço
Por essa sua idiotice
Assim como aconteceu
A Antônio, Sérgio e Murilo
Três parceiros de caçada
Prontos a dar muitos tiros
Bom, todos menos Antônio
Que foi só pelo restilo
Ao chegar em seu destino
Numa clareira na mata
Montaram acampamento
Antes de seguir na caça
Só que seus três perdigueiros
Farejaram uma ameaça
Os cães correram na frente
Sumindo que nem fumaça
Os homens seguem no rastro
Pra não escapar a caça
E Antônio ficou pra trás
Secando outra garrafa
Já passava da meia-noite
E Antônio já bem tonto
Resolveu seguir pra mata
A procura dos garotos
E empunhando um facão
Seguiu caminhando torto
Na metade do caminho
O caçador perdeu seu facão
E de quatro sobre a grama
Seguiu tateando o chão
Mas por conta do escuro
A procura foi em vão
Então, pondo-se de pé
Pra São Longuinho foi apelar
Adaptando sua promessa
Sem ter condições de pular
Caso encontre seu facão
Três goles na pinga iria dar
O pinguço seguiu em frente
Controlando sua aflição
E topando numa raiz
Caiu de cara no facão
E pra cumprir a promessa
Engoliu pinga de montão
E após engolir o trago
Assustado cuspiu longe
Ao perceber em sua frente
O enorme cão que surge
Olhando cheio de raiva
Ao pobre gambá que tuge
Os amigos logo surgem
Com dois tatus pendurados
Quando deparam com a cena
Ambos ficam apavorados
Vendo o parceiro borracho
Com o cão preto acorrentado
Tentando à força arrastá-lo
Diz aos amigos empolgado
Vejam o cachorrão que achei
E apesar de empacado
Vai ser um bom cão de caça
Só precisa ser treinado
Nisso surgem os guaipecas
Deparando com assombração
Fogem correndo assustado
Arrastando os rabos no chão
Embrenharam se na mata
Perdendo-se na imensidão
Murilo percebendo o erro
Gritou ao amigo já pasmem
Antônio, seu debiloide
Você está louco homem
Isso que diz que é um cão
De certo é um Lobisomem
Com a fuga dos amigos
O bebum riu da confusão
Talvez por estar bem alto
Não percebeu a situação
E sem demonstrar seu medo
Retirou a corrente do cão
Fulo por ser enganado
Deu correntadas no lobo
Como forma de castigo
Por tê-lo feito de bobo
Mas logo viu que fez merda
Por deixar o monstro brabo
Sem perder mais um segundo
O pinguço saiu correndo
Tentando salvar sua pele
Das garras do lobo horrendo
Mas se não tiver solução
Pretende morrer bebendo
Mas no meio da corrida
Sentiu vontade de urinar
Sem conseguir se conter
Decidiu se aliviar
E deixando cair as calças
Atrás dos arbustos foi mijar
Mas enquanto esvaziava
Um arrepio lhe percorreu
Ao notar que em suas costas
Um vulto preto apareceu
Que sem encontrar sua presa
Lançou um uivo no céu
A besta seguiu seu rumo
Pra alívio do cachaceiro
Que saiu agarrando as calças
Para longe do banheiro
Quando percebeu um toque
Deixando as cair no joelho
Era Murilo assustado
Que veio buscar o amigo
Dizendo que Sérgio aguarda
Com o carro abastecido
Prontos pra darem o fora
Desse lugar esquecido
Mas não seria assim tão fácil
Fugir daquele inferno
Com aquela fera a solta
Fungando forte em seu terno
Só milagre pra salvá-los
Que veio na forma de Sérgio
Cortando a frente da besta
Com o carro acelerado
Os amigos entram logo
Temendo maior estrago
A fera avançou no carro
Deixando-os apavorados
Mas o carro foi mais rápido
Deixando a fera pra trás
Pode acreditar no fato
Desse caçador Sagaz
Que logrou o lobisomem
De um modo tão fugaz
Muitos creem que é mentira
Que é papo de caçador
Mas é fato minha gente
Todos temem o predador
E com a lenda que surgiu
Ganhou fama o trovador
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