Tudo o que eu mais queria nessa vida era ser como qualquer outro rapaz de minha idade; ter bons amigos, frequentar animadas festas, me relacionar bem com todos na escola e principalmente ser respeitado por eles pelo que eu sou. Mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu comigo. Como em todos os lugares por onde passei, naquela escola também fui ignorado por todos. Isso quando não faziam piadas e riam da minha cara. Eu já estava ficando farto daquela situação e chegando à conclusão de que problema deveria estar realmente em mim. Só isso explicaria o fato de eu não conseguir me relacionar com ninguém de minha idade. Na certa era vergonhoso demais ser visto em público em minha companhia. [...]
[...] Ao chegar naquela escola, eu pude perceber que as pessoas eram todas iguais. Por mais que eu trocasse de escola, a mentalidade dos adolescentes seria sempre a mesma. Para esses jovens, o que contava para ser popular entre os colegas não era simplesmente ter uma boa aparência. Precisava ser o melhor em tudo o que fazia: precisava ser o melhor nos esportes, o melhor nas manobras radicais de skate e, principalmente, ter boa lábia para conquistar as garotas. Somente numa coisa não podiam ser bons: não poderiam ser bons alunos. Para eles quem perdia tempo estudando era considerado um otário e jamais seria aceito em seu grupo.
No fundo, eu sempre quis ser como aqueles rapazes que, apesar de irresponsáveis e ignorantes, eram bem-aceitos pelos colegas e viviam sempre cercados de lindas garotas. Mas, infelizmente, eu estava longe de ser um deles, afinal, eu não tenho atrativo nenhum: eu sou baixo, magro e muito tímido. Não faço o tipo atlético, um quesito indispensável para ser popular entre os colegas. Eu também detesto esportes, não sei sequer jogar futebol. Mas, ainda assim, estava disposto a ser como um deles. E nem que eu tivesse que mudar completamente o meu jeito de ser, eu ainda seria como Leandro.
Eu confesso que invejei o Leandro desde a primeira vez que o vi. Talvez por ele representar tudo o que eu gostaria de ser e não era. O Leandro é bonito, alto, com uma farta cabeleira loira, olhos azuis e um corpo atlético. Tudo completamente oposto a mim. Isso sem falar que ele fazia o maior sucesso entre as garotas, não que isso me interessasse. O Leandro não era um mau rapaz, inclusive falava comigo de vez em quando. Desde que não tivesse ninguém por perto, é claro, porque diante dos amigos ele se transformava e se tornava tão arrogante quanto eles. [...]
Essa é uma pequena amostra desse conto, criado em 2004 e que apresenta de forma sutil um tema que, infelizmente, continua em alta nos dias atuais, principalmente em nossas escolas: o bullying. Na época, esse termo de origem inglesa não era muito utilizado e nem tinha a importância que tem hoje, mas ainda assim a sua prática era comum entre as crianças e adolescente.
O bullying acontece de diversas maneiras: pode ser expresso por apelidos vexatórios e sistematicamente utilizados, pela perseguição à vítima, pela humilhação da vítima diante de um público, pela exposição da vítima por suas características físicas ou psicológicas, chegando, em muitos casos, a agressões físicas que podem provocar lesões corporais. Pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. Quando o tema é bullying, geralmente os danos psicológicos causados por esse tipo de violência são os mais lembrados. As consequências emocionais, porém, podem ser tão devastadoras a ponto de gerar danos físicos ao longo do tempo.
Neste conto, narrado em primeira pessoa, o solitário Breno tenta de tudo para ser aceito e respeitado em sua nova escola, mas, assim como em várias outras, ele acaba sendo hostilizado e humilhado por todos. Mas isso muda quando uma tragédia une-o a Leandro, o estudante mais popular da escola e que passa a defendê-lo das agressões de sua antiga galera.
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